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domingo, 26 de julho de 2009

Estrutura familiar serve de alicerce educacional

Exemplo dos pais levam adolescente da zona rural a sonhar com conquistas pessoais por meio dos estudos

Quixadá. Filho único de pais separados, José Laêys de Sousa Freitas tem um sonho muito comum a jovens pobres que estão no auge da adolescência: ser alguém na vida e ajudar economicamente a família. Abdicar das brincadeiras, do lazer, do namoro não são tarefas fáceis nos dias de hoje. A tentação é grande, principalmente nas férias, mas ele está decidido. Quer passar no vestibular, terminar a graduação, conseguir um bom emprego para tirar a mãe da fábrica de calçados, onde trabalha como operária, e ainda pagar os estudos do pai na universidade.

Para conquistar seus objetivos, Laêys dedica a maior parte do tempo aos estudos. Sai cedo da casa da avó e segue para a casa do pai. Encontra ali, no pequeno cômodo onde o quarto-cozinha é dividido da sala por meia-parede e cortina, o local ideal para se debruçar sobre os livros. Não poderia ser melhor. Além da agradável acolhida, a madrasta é como uma irmã mais velha. Apenas 10 anos separam a idade dos dois, mas o suficiente para aprender uma importante lição: estudar é a melhor maneira para tornar sonhos em realidade.

O amparo e os conselhos chegam também pela mãe. Quando precisa pesquisar algo ou se concentrar um pouco mais, já que o barulho dos carros e a poeira praticamente invadem a casa erguida à beira da estrada do Custódio, uma vila rural de Quixadá situada há cerca de 20km dali, o aprendiz segue na garupa da motocicleta do pai para a biblioteca pública da cidade, onde costuma permanecer até oito horas por dia. Intervalo? Apenas para o almoço na companhia da mãe. É o tempo que eles geralmente têm para se encontrarem, conversar e sonhar juntos com um futuro melhor.

O jeito de homem, do rapaz que acaba de chegar aos 16 anos, não esconde sua tristeza em ver o esforço daquela que lhe deu à luz, na exaustiva jornada pela sobrevivência. Não suportou a solidão quando era praticamente obrigado a passar o dia inteiro sozinho. Preferiu morar com o pai. Foi com ele que aprendeu que um homem vale o quanto sabe. Caso contrário, é decidir a sorte na roça ou pegar no pesado. Preguiça? Ele não tem, mas já é inteligente o suficiente para saber que o esforço da mente é mais saudável que o do corpo.

Decidido, Laêys já traçou seus planos para o futuro. Pretende se dedicar ainda mais aos estudos nos próximos meses e passar no exame de seleção da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), para Matemática ou Biologia. Também se inscreveu no concurso do vestibular para Química Industrial no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Os cursos são gratuitos. Ingressar no nível superior é apenas uma das etapas. E Laêys está determinado a continuar o aprendizado, dentro da faculdade.

Tamanha determinação não é por menos. O pai e agente de saúde, José Alberto de Freitas, é a sua principal fonte de inspiração. Só conseguiu concluir o Ensino Médio aos 21 anos. Já estava casado e tinha a responsabilidade de criar e educar o filho que viria a nascer 15 anos depois. Graças à dedicação aos estudos, conseguiu superar outros 30 candidatos na seleção profissional. Exerce o ofício há 16 anos. Também concluiu o curso técnico em Enfermagem. Mesmo assim, continua estudando. Laêys reconhece que muitos jovens desprezam as oportunidades educacionais que os pais lhes dão e, muitas vezes, o arrependimento vem na fase adulta, quando percebe o quanto desperdiçou.

Desperdiçar esse período cronológico da vida é se arrepender futuramente. Não é de hoje que ouve os lamentos do pai em ter formado família tão cedo e não ter ingressado na universidade. Apesar dos 36 anos, ainda sonha em se formar em Enfermagem. Mas ganha apenas um salário mínimo. Reconhece que não é o suficiente nem para pagar a mensalidade, além dos mais, a companheira, Maria José, está gestante de seis meses.

Exemplo

Além desses exemplos, a avó e os tios confirmam que o pai, na época, chorava para continuar os estudos. Ficar doente, nem pensar. Era um verdadeiro pesadelo. A escola ficava a quase uma légua de casa, mas para ele qualquer distância era pouca para aprender um pouco mais. Quando a família teve que viajar para Senador Pompeu, em busca de melhor condição de sobrevivência, Alberto não pensou duas vezes: preferiu ficar com uma tia. Era muito tímido e para não incomodar fazia a lição à noite, debaixo de um poste.

“Com um pai desses não há filho que resista. A melhor forma de agradecê-lo será me esforçando diante dos livros, me formando, trabalhando e conseguindo pagar os estudos dele na faculdade, já que não temos cursos gratuitos de Enfermagem por aqui. E para não perder o emprego, ele não pode se ausentar da localidade rural onde moramos, São João dos Pompeu. Se depender de mim, num futuro próximo seremos doutores”, acredita o jovem, completando que a sua mãe também será beneficiada com o sucesso do seu futuro.

ALEX PIMENTEL
Colaborador
Diário do Nordeste

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