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domingo, 4 de janeiro de 2009

CULTURA POP: Che e a imagem


Mais símbolo visual da revolução, Che Guevara ganha biografias no cinema e nos quadrinhos

Jacques Aumont, um dos principais pensadores do cinema, definiu a modernidade ocidental como a “civilização da imagem”. Para o intelectual francês, vivemos num mundo onde a quantidade, as modalidades e o intercâmbio de imagens são cada vez mais numerosos. Tanto que o visual ocupa cada vez mais espaço em terrenos onde antes sua presença era tímida. É o caso da arte narrativa - cujas expressões tradicionais estariam em vias de extinção, segundo o filósofo alemão Walter Benjamin. O cinema e as histórias em quadrinhos, duas artes que nasceram no final do século XIX, são expressões claras desta invasão.

Não é difícil imaginar que, com os modelos tradicionais abalados, as narrativas visuais tenham tomado a dianteira. Isto implica em sociabilizar experiências, de maneira análoga ao que faziam figuras com os jograis da Idade Média e os livros que contam a histórias dos santos. O líder guerrilheiro Che Guevara é uma personagem exemplar neste mundo de imagens que narram.

Sua imagem em preto e branco, registrada pelo cubano Alberto Korda (1928 - 2001), em 1960, tornou-se uma das mais célebres do século XX (tanto quanto a do físico Albert Einstein mostrando a língua). Não faltou quem arriscasse interpretar as feições de Che, enxergando idealismo em seu olhar, a cabeça erguida com heroísmo e a profética postura de uma mártir moderno. É esse Che Guevara de muitos significados que se tornou um ícone da cultura pop, tanto quanto Mickey Mouse, Elvis e insígnias hippie. Ela se encontra estampada no merchandising de grupos de rock (caso do Rage Against the Machine), em camisetas de lojas de departamento e capas de caderno.

Narrativas visuais

Por si só, uma imagem pode ser capaz de uma narrativa mínima. Todos os feitos, aventuras e desventuras de Che, são trocados pela sintética definição: um guerrilheiro argentino que participou da revolução cubana. Che foi mais que isso. Não são poucos os que sabem isso e se empenham para que, para uma cultura de massa, ele seja mais que uma foto e uma legenda. Com a efeméride dos 50 anos da revolução, três biografias visuais procuram expandir a imagem de Che.

A mais comentada é do cineasta norte-americano Steven Soderbergh, diretor de filmes como cineasta norte-americano “Traffic” (2000) e “Onze homens e um segredo” (2001). Dividido em dois filmes - cujos subtítulos são “O Argentino” e “Guerilha” -, a cinebiografia é protagonizada por Benicio Del Toro. Ambas estreiam no começo deste ano. Se espera é que o Che Guevara de Soderbergh se aproxime mais da figura do comandante revolucionário, diferente do herói em formação retratado em “Diários de Motocicleta” (2004), filme do brasileiro Walter Salles.

No final de 2008, chegou às livrarias e comic shops aquela que deve ser a mais antiga biografia visual do argentino. Trata-se de uma história em quadrinhos, escrita pelo argentino Héctor Germán Oesterheld e desenhada pelo uruguaio Alberto Breccia, com a ajuda do filho Enrique. Che tem, pelo menos, outras duas biografias em HQ: uma do Kim Yong-hwe; e outra, recém-lançada nos EUA, de Spain Rodriguez.

DELLANO RIOS
Repórter

CINEMA

Che: I & II - (EUA, 2008), de Steven Soderbergh. Com Ernesto Che Guevara, Julia Ormond, Demián Bichir e Rodrigo Santoro. Drama. Estréia em fevereiro

Diários de motocicleta - (Brasil, França, EUA e outros, 2004), de Walter Salles. Com Gael García Bernal, Rodrigo de La Serna e Mía Maestro. Drama.

QUADRINHOS

Che: os últimos dias de um herói - (Conrad, 2008, 96 páginas, R$ 34,90), de Hector Oesterheld, Alberto e Enrique Breccia.

Che - (Conrad, 2007, 248 páginas, R$ 23,50), de Kim Yong-hwe

Che: a graphic biography - (Verso Books [EUA], 2008, 120 páginas, US$ 16,95 ), de Spain Rodriguez

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