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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Instituto das Chuvas: Falsos profetas serão barrados em encontro

Organizadores do Encontro dos Profetas das Chuvas pretendem controlar acesso de participantes

Quixadá. A próxima edição do Encontro dos Profetas das Chuvas promete polêmica. Mudanças radicais estão previstas para as apresentações tradicionalmente realizadas no segundo sábado de janeiro, no entorno do Açude do Cedro, em Quixadá. Diferente dos últimos encontros, os profetas estreantes serão avaliados antes da exposição de seus prognósticos. Os organizadores pretendem evitar a participação de “exibicionistas” e assegurar a credibilidade do evento que, em 2009, chega a sua 13ª apresentação.

Um dos criadores do encontro, o comerciante João Soares, resolveu fundar um órgão para sua realização, o Instituto de Pesquisas de Violas e Poesia Cultural do Sertão Central. Por meio dele serão estabelecidos os critérios de acesso dos futuros participantes. Ele explica que o nome está relacionado aos cantadores de viola, repentistas, porque desde 2007 eles prenunciam o sarau diurno dos profetas das chuvas, no “Encanta Quixadá”. Alguns, inclusive, têm o dom da observação e arriscam seus palpites no dia seguinte às disputas de viola.

Quanto aos pretensos participantes, uma junta formada por profetas renomados avaliará os candidatos. Deverão dar provas de conhecimento dos princípios básicos utilizados no diagnóstico do período invernoso no Sertão do Ceará. As avaliações considerarão os dados colhidos ao longo desses 12 anos de encontros. Assegurados no evento, programado para o próximo dia 10 de janeiro, estão 20 da lista de 27 relacionados na última apresentação. Os nomes dos “falsos profetas” não foram divulgados.

Na opinião de Antônio Lima, um dos mais respeitados do grupo, são poucos os cientistas populares a conhecerem os verdadeiros sinais da natureza e deles conseguirem extrair as previsões climatológicas de interesse do sertanejo. Confessa que estava disposto a desistir. Com o estabelecimento de critérios e a eliminação de quem tem brincado com a sabedoria popular, participará satisfeito. Elogia a criação do Instituto, mas não entende o nome tão extenso e sugere: Instituto das Chuvas e Poetas do Sertão.

Para Soares, a carência econômica é o principal motivo da criação do Instituto. Acredita na oficialização da entidade como alternativa para a captação de recursos. Agora será possível firmar parcerias com patrocinadores, desenvolver atividades culturais e aprimorar os estudos dos observadores da natureza. “Nossos profetas e cantadores precisam de auxílio. Alguns estão doentes. Necessitam de cuidados. Outros não têm sequer uma viola para suas apresentações. É necessário fazer algo por eles”.

Os cantadores de Quixadá recebem a novidade com bons olhos. Esperam o fortalecimento da categoria e amparo para quem se dedica exclusivamente à poesia popular de versos improvisados ao toque da viola. Entretanto, há quem veja a iniciativa com cautela. O repentista João de Oliveira se refere à outras associações criadas na cidade com o propósito de valorizar a cantoria. Não resistiram ao descaso dos órgãos governamentais e a falta de apoio do setor empresarial. Se hoje sobrevivem é graças ao apoio de poucos admiradores e o espaço cedido nas emissoras mais antigas da região.

Alex Pimentel
Colaborador


SAIBA MAIS

Criação
O Encontro dos Profetas das Chuvas foi criado em 1996 pelo comerciante e ex-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Quixadá, João Soares de Freitas, e pelo engenheiro químico da Cagece, Hélder dos Santos Cortez. No início era realizado no auditório da CDL. Nos últimos anos ganhou destaque na mídia e um número maior de participantes, passando a ter como palco o antigo Clube dos Agrônomos, ao lado do Açude do Cedro

“Encanta Quixadá”
Nos últimos dois anos, João Soares incluiu na programação o ´Encanta Quixadá´, reunindo repentistas da região no Centro Cultural Rachel de Queiroz. Ali entoam com suas violas temas relacionados à natureza e as previsões anunciadas na manhã seguinte. O espaço é aberto ao público. A cada ano está atraindo um número maior de admiradores, principalmente de jornalistas de outros Estados e até do exterior

O QUE ELES PENSAM

Preservar hábitos nordestinos

"Essa foi a maneira que encontramos na luta pela preservação de dois importantes hábitos da nossa gente. A ciência popular e a cantoria correm o risco de agonizar diante do descrédito e do esquecimento se não fizermos algo por elas. Embora pareçam costumes simples, na realidade, carregam a essência cultural e poética da nossa gente. Nós esperamos que todos entendam e, principalmente, colaborem para a manutenção da nossa identidade".
João Soares
Presidente do Instituto

"Levamos a sério os nossos estudos. Somente quem tem de enfrentar a fome e a sede, por conta da seca, é capaz de entender a importância das nossas previsões. São muitos os que depositam suas esperanças no que encontramos nos sinais da natureza. Se aceitamos expor nossos conhecimentos é porque temos o propósito de ajudar a quem depende da sorte que o tempo nos reserva a cada ano. E até mesmo quando vem tempo ruim, devemos fazê-lo com habilidade".
Antônio Lima
Profeta da chuva

"De alguma forma nossos violeiros estão associados aos sabedores do tempo. Com certeza temos a nossa importância no cotidiano deles. Se para uns nossas cantorias não têm valor, para muitos representam o estímulo no início da luta na lavoura e o alívio depois de uma exaustiva jornada de trabalho diante de sol a pique. Sensibilidade assim só é capaz de sentir o verdadeiro caboclo, a se orgulhar de suas raízes. Comparo essa relação à fábula da cigarra e a formiga".
João de Oliveira
Repentista

Mais informações:
Instituto de Pesquisas de Violas e Poesia Cultural do Sertão Central
(88) 3445.0020
E-mail: josoaresdefreitas@hotmail.com

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