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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Bebê morre após falta de socorro hospitalar em Choró


Casal vai processar Secretaria de Saúde de Choró por negligência e exigir indenização por morte de bebê

Choró. Após momentos de sufoco na realização de um parto na beira da estrada e a morte do filho recém-nascido horas depois, Antônio Audênio Simão da Silva, 30 anos, e sua companheira Lucilene Pereira da Silva, 21, agricultores de Fonte Nova, comunidade rural do distrito de Caiçarinha, situada a 22km da sede de Choró, no Sertão Central, vão processar o hospital deste município na Justiça e exigir indenização pela perda.

A decisão foi tomada pelo casal por conta do que consideram negligência da equipe da Secretaria de Saúde do Município. Segundo eles, a ambulância do Hospital Padre José Bezerra Filho não atendeu ao pedido de socorro. Foram obrigados a realizar o parto na margem da CE-456, em plena madrugada do último dia 25 de maio — a rodovia corta a região no sentido de Canindé. O pai disse que não teve outra alternativa, uma vez que a mãe estava prestes a dar a luz.

Ele conta que esperaram mais seis horas pela ambulância que não apareceu na comunidade. Então, o jeito foi fazer o parto ali mesmo, na margem da rodovia. Nem ele sabe ao certo como fez.

Com o auxílio de uma moradora da região conseguiu cortar o cordão umbilical do filho com uma tesourinha. Após o parto, retornaram para casa. Pediram o auxílio hospitalar novamente e, mais uma vez, não foram atendidos. Luciano Pereira Simão, nome que recebeu o bebê, morreu 20 horas depois, por falta de assistência médica, segundo denuncia o casal de agricultores.

Eles resolveram tornar o caso público na região por meio da rádio Pioneira FM, uma emissora comunitária outorgada pelo Ministério das Comunicações. Antônio Audênio enviou uma carta, escrita por um amigo, já que não sabe ler nem escrever. Apenas assina o nome. O radialista Antônio Borges de Oliveira, conhecido por ´Marcolino´, recebeu a denúncia e leu no seu programa “Linha Direta”, transmitido diariamente no horário de 12 às 14 horas. Marcolino afirma que ficou indignado e decidiu informar ao Diário do Nordeste.

Ao receber a reportagem, o apresentador e ex-secretário de Comunicação da administração municipal anterior, apresentou mais denúncias. Afirma serem constantes as reclamações dos ouvintes. Apesar de pertencer ao grupo político adversário, alega só transmitir o que tem provas. “Todos reclamam da falta de médicos nos postos de saúde e até no único hospital da cidade, que nem telefone possui”, afirma ele.

O administrador geral do Hospital Municipal, Gilberto de Almeida, contesta o radialista e também a versão apresentada pelo casal. Lamenta a morte prematura, mas a atribui aos próprios pais. Segundo avalia, os pais não atenderam as orientações padrões. “Gestantes em estado de parto que moram na zona rural, em áreas de difícil acesso, ficam acomodadas em casas mais próximas das estradas”. Segundo ele, a mãe preferiu retornar para casa. Também não seguiram para o hospital após o parto. Mesmo que tivesse ocorrido omissão dos servidores plantonistas, já que o contato com a unidade de atendimento é feito por um orelhão instalado há mais de 20 metros da portaria, e não houve retorno da primeira ligação, confirmando a necessidade, poderiam seguir em outro transporte ao amanhecer do dia, conforme avalia.

GRAVE

"Recebemos denúncias todos os dias. Mas esse caso é muito grave. Uma vida humana foi perdida"

Marcolino Borges
Radialista

SAÚDE PÚBLICA

Três médicos fazem rodízio de plantão na unidade

Choró. O administrador geral do Hospital Municipal de Choró, Gilberto de Almeida, confirma as dificuldades enfrentadas no atendimento médico à população. Porém, atribui ao constante rodízio de médicos, que recebem propostas mais interessantes e vão embora. “Todavia, a situação já está sendo normalizada”, garante. Três médicos plantonistas já se revezam na unidade hospitalar do município. A linha telefônica está sendo reinstalada dentro do prédio. Havia pendência de mais de R$ 12 mil, deixada pela administração anterior, segundo conta. Além desses problemas, o diretor hospitalar informou que o prefeito José Antônio Rodrigues Mendes, o “Dé”, está estudando a nomeação de novo secretário de Saúde para o município. O farmacêutico Antônio Neto pediu destituição logo após a morte do bebê. Alegou razões pessoais.

Quanto à ação judicial, o diretor acredita não existirem elementos. Os relatórios, médico e da agente de saúde da comunidade, apontam uma hemorragia no cordão umbilical como causa. “Os pais desprezaram o risco”, justificou.

ALEX PIMENTEL
Colaborador
Diário do Nordeste

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