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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

SERRA DO ESTEVÃO: Extração preocupa lavradores


Lavradores e ambientalistas criticaram extração de madeira na Serra do Estevão. 21 famílias residirão no local

Trabalhadores rurais e ambientalistas estão preocupados com a degradação provocada pela ação do homem na Serra do Estevão, uma pequena cadeia montanhosa situada a 24km do Centro de Quixadá. Além das queimadas, a extração de madeira, numa área de aproximadamente 800 hectares, levou agricultores e representantes de movimentos sindicais a realizarem um protesto “educativo” no local. Embora particular, a propriedade rural é negociada para o assentamento de 21 famílias residentes nas imediações.

Além de lavradores da região, a comitiva era formada pelas equipes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Quixadá (STTRQ) e da Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Dom Maurício. Juntos, flagraram lenhadores derrubando dezenas de troncos de Sabiá. Havia toras de madeira espalhadas por todos os lados. Com o instrumento de corte a mão, o agricultor Antônio Ubiraci Pinheiro Machado alegou ter sido a última extração vegetal na Fazenda São José, distante pouco mais de 6km da sede de Dom Maurício.

Ele confessou já ter retirado dali outras quatro carradas. A madeira tem compra e destino certo: o Estado de Pernambuco. Ainda sobre o desmatamento, o agricultor justificou possuir documentação legal do órgão ambiental para a exploração. No entanto, não apresentou a guia. Disse que estava na mão do caminhoneiro responsável pela remoção da madeira. Ele diz que chega a lucrar pouco mais de R$ 400 por mês com o serviço. Ele alega não ter outra alternativa.

O chefe do escritório regional da Fetraece, José Fernandes Mendes, contesta as alegações. “Se tudo fosse feito de forma legal, eles não teriam que sair escondidos, à noite, desviando da fiscalização do Ibama e da Semace”, diz.

Os presidentes do Sindicato e da Associação de Trabalhadores Rurais, Eronilton Buriti e Pedro Beserra de Souza, respectivamente, dizem que há crime ambiental. Como a propriedade está sendo negociada por meio do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão aproveitando para sugar o máximo que podem. Buriti reclama dizendo que “do jeito que estão agindo, vão entregar a fazenda totalmente pilhada”, diz.

Inspeções

Um dos herdeiros de Joaquim Gomes da Silva, legítimo dono das terras, que pediu anonimato, diz que há décadas a própria vizinhança tem usufruído da matéria prima existente ali. Não há como controlar. “Se a gente proibir, eles invadem do mesmo jeito”, diz. Segundo representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rolfran Ribeiro, e da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Ivan Aquino, já foram agendadas inspeções no local apontado pelos agricultores.

Aquino informou que não há condições de confirmar a existência da autorização para extração da madeira nativa naquela área. Caso sejam constatadas as irregularidades na extração, os responsáveis serão processados nas esferas administrativa e criminal.

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
Jovens sensibilizados para a preservação

Filhos de lavradores de Banabuiú, Canindé, Choró, Ibaretama e Quixadá aprenderam como preservar a Caatinga

Quixadá. Enquanto sindicalistas, associativistas e órgãos oficiais de proteção ao meio ambiente trocavam responsabilidades, um pequeno grupo de jovens encontrava na situação a oportunidade para uma importante lição ecológica. Acompanhados do educador ambiental Tadeu Barros Silveira, filhos de lavradores de Banabuiú, Canindé, Choró, Ibaretama e Quixadá aprendiam na prática a difícil luta pela preservação do nosso bioma, a Caatinga.

Eram alunos de mais um curso de agroecologia promovido pela Fundação Cepema. Estavam no segundo dia de aula quando souberam da denúncia sobre a devastação da floresta sertaneja. Lápis e papel na mão e a angústia no coração. Anotavam tudo o que viam e ouviam. Cada golpe de machado abria uma ferida no peito. Mais um pedaço daquele recanto estava sendo destruído. Difícil de entender como o próprio homem estava demolindo o alicerce de seu habitat natural.

Maria Rosicleria da Silva não se conformava com o que via. Toras de madeira empilhadas por todo lugar, prontas para fincarem no chão o tamanho da ignorância humana. Pela quantidade de estacas, bem extensa. Foi ali que percebeu com as explicações do professor o risco da desertificação daquela área. “Explorar sim. É uma necessidade humana. Mas com responsabilidade e consciência. O manejo é a melhor forma de evitar que a situação se torne mais crítica”.

Tadeu Silveira se referia à prática ecologicamente correta para o convívio do agricultor com a terra. O sistema de agrofloresta. “Assim como o homem, a fauna e a flora têm seus ciclos de vida. Aproveitá-los, respeitando o equilíbrio natural, é a melhor maneira de assegurar o sustento sem ferir a sua própria mãe, a natureza. Derrubar árvores, a torta e a direita, é incentivar um dos mais graves processos de destruição do planeta, as queimadas”, explicava o mestre.

Desajeitado com a lição que acabara de aprender, o mateiro acertava o golpe no Sabiá com menos força. O auxiliar puxava o burro carregado de troncos com menos pressa. Uma mostra de que as lições surtiram algum efeito.

O ambientalista Tadeu Silveira aposta na união de forças e ações promovidas pela fundação, dedicada à promoção, desenvolvimento social e ecológico nas perspectivas ambiental, econômica e político-cultural, por meio de formações com base na agroecologia, como forma de garantir uma proteção maior ao meio ambiente, por meio da população.

FIQUE POR DENTRO
Onde está localizada a Serra do Estevão

A Serra do Estevão, no município de Quixadá, tem aproximadamente 24km de comprimento por 10km de largura. A pequena cadeia montanhosa está a 720 metros de altitude em relação ao nível do mar. Sua formação geográfica funciona como divisor das águas entre as bacias hidrográficas dos rios Sitiá e Choró

Mais informações:
Fetraece (85) 3231.5887
Ibama (85) 3272.1600
Semace - (85) 3101.5520

ALEX PIMENTEL
Colaborador

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