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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Correspondente do Diário do Nordeste em Quixadá é ameaçado de morte

As denúncias de fraude na Operação Pipa no distrito de Cruzeta repercutiram em todo o Sertão Central

Fortaleza. O correspondente do Diário do Nordeste no Sertão Central, Alex Pimentel, recebeu ameaça de morte ontem pela manhã, um dia depois de ter ido ao distrito de Cruzeta, em Pedra Branca, para apurar denúncia de fraude na Operação Pipa. Por volta das 10h, uma pessoa que não se identificou ligou para o celular de Alex e o ameaçou: “Se você voltar aqui, vai ser recebido da mesma forma que o Tim Lopes foi recebido”, disse o anônimo, em referência ao jornalista da Rede Globo assassinado por traficantes em junho de 2002, quando fazia matéria sobre o tráfico de drogas nos morros do Rio de Janeiro.

Pelo número registrado no identificador de chamadas do celular, Alex Pimentel descobriu que a ligação foi feita de um telefone de Pedra Branca, o que leva à suspeita de que a ameaça tenha partido de pessoas envolvidas no caso, como represália ao trabalho jornalístico. O correspondente pretende registrar ocorrência policial e exigir a apuração do caso.

Na edição de ontem, o Diário do Nordeste publicou, com exclusividade, denúncia feita pelo prefeito de Pedra Branca, Antônio Gois, e por moradores de Cruzeta de que a água entregue à comunidade, desde dezembro, é proveniente dos açudes das Oiticicas e Urubu, sem condições para o consumo humano. Os açudes onde a água deve ser retirada, segundo o Exército Brasileiro, que coordena a operação, são o Cupim e o Trapiá, este no município de Independência. Segundo prefeito e moradores, a fraude é cometida pelos pipeiros com o objetivo de economizar na quilometragem dos caminhões.

Obscurantismo
Para a presidente da Associação Cearense de Imprensa (ACI), Ivonete Maia, ameaças de morte têm sido constantes para profissionais de imprensa em todo o mundo. Ela disse que “infelizmente o obscurantismo de pessoas, seja no Interior ou nas grandes cidades, permanecem em pleno 2009. A perseguição a correspondentes de jornais do Interior é uma constante ao longo do tempo. Certas pessoas se acham poderosas e pensam que correspondente é para dar boas notícias. Elas demonstram ignorância sobre o papel do jornalista”.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Hélio Leitão, disse que a liberdade de imprensa é um dos pilares do Estado Democrático de Direito. “Não há democracia sem imprensa livre. Não é apenas uma ameaça ao Jornalismo, mas é um atentado ao Estado de Direito, à consciência cívica”, ressalta.

As denúncias no distrito de Cruzeta repercutiram em todo o Sertão Central. A manchete foi destaque nas emissoras e portais eletrônicos. Lideranças sindicais e de organizações não governamentais consideraram a situação absurda. Nos noticiosos da região, os ouvintes criticaram a postura do Exército. Comparam a omissão dos militares à situação da segurança pública no Estado.

Dezenas de leitores enviaram e-mails de protesto à fraude. Destaque para as mensagens de Luiz Moreira e Jayro Nikson Cavalcante, que se indentificaram como moradores do distrito de Cruzeta. O primeiro disse que o problema já existe há vários anos e levantou suspeitas sobre a participação de agentes do Exército. O segundo se disse “testemunha ocular” do fato e cobrou mais fiscalização dos militares. Apenas duas leitoras de Pedra Branca, disseram não crer na veracidade das denúncias.


ÍCARO JOATHAN
Repórter


VÍDEO
7 minutos, em média, é a duração do vídeo, feito por moradores de Pedra Branca, com imagens de um caminhão-pipa pegando água de açude, imprópria ao consumo humano

Mais informações:
Disque Denúncia da Operação Pipa - 10ª Região Militar
(85) 3255.1673
(85) 3255.1642
Qualquer pessoa pode denunciar

APURAÇÃO

Exército e Defesa Civil esperam relatórios
Fortaleza. O Exército e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil aguardam receber hoje relatórios de apuração das denúncias de fraude no funcionamento da Operação Pipa em Pedra Branca. Uma equipe do 23º BC foi enviada ao local para averiguar as denúncias de irregularidades. De acordo com o major Neyton Araújo, coordenador regional da Operação Pipa, o objetivo é “aprofundar ao máximo a investigação”, que deve ser “o mais célere possível”.

De acordo com ele, se for caracterizada a participação de civis no esquema, a denúncia será encaminhada ao Ministério Público (MP), e os pipeiros serão descredenciados do programa. Se houver indícios da participação de militares, os envolvidos também serão punidos. “Temos que averiguar. Em princípio, acredito que não deve haver participação de militares. O importante é que se trabalhe com o máximo de transparência”, disse.

Pela Defesa Civil, o coordenador-adjunto do órgão, coronel Leandro Silva Nogueira, informou que um técnico foi enviado à Pedra Branca para apurar as denúncias. Se provadas, um relatório será encaminhado ao Exército e à Secretaria Nacional de Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional (MIN), para que as providências legais sejam tomadas.

Por meio da assessoria de Imprensa, o MIN, que libera os recursos para o funcionamento da Operação Pipa, disse que não recebeu nenhuma denúncia oficial e que tomou conhecimento dos fatos pela reportagem de ontem do Diário do Nordeste. Mesmo assim, o órgão disse que entrará em contato com o Exército para pedir a apuração dos fatos.

Outra instituição que requisitará informações ao Exército será o MP, por meio do promotor de Pedra Branca, João Pereira Filho. “Vamos pedir que eles abram uma sindicância para verificar a denúncia e requisitar informações”, antecipou.

O promotor ponderou que, se a denúncia for verdadeira, o MP dará dois encaminhamentos ao caso. A primeira será repassá-lo ao Ministério Público Federal para apurar fraude financeira contra a União, pois o valor pago aos pipeiros é calculado com base na distância percorrida pelos caminhões. A segunda será a instauração de inquérito policial para apurar crime contra a saúde pública.

A denúncia das irregularidades em Pedra Branca serão debatidas na Assembléia Legislativa do Estado a partir de fevereiro, na volta do recesso parlamentar, segundo garantiu o deputado estadual Heitor Férrer, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania. Além desta comissão, o assunto também será tratado na Comissão de Recursos Hídricos, conforme informou.

“Tratam-se de irregularidades desumanas, cuja responsabilidade é dos gestores, que fazem contratos com esses que servem água de má qualidade, levando doenças a esta população excluída do Interior do Estado, que não tem nenhuma forma de acesso à água”. Para o parlamentar, o assunto deve ser apurado pelo MP, pelo Exército, pela Defesa Civil e pela Assembléia. “O não fornecimento de água é uma demonstração de falência do Estado. E o fornecimento de água poluída é uma violação dos direitos humanos”, criticou.

Políticas permanentes
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), Moisés Braz Ricardo, as denúncias são “altamente procedentes”, pois foram feitas pelos beneficiários diretos e pelo próprio prefeito. “Lamento profundamente que a gente esteja com um programa para beneficiar as famílias e alguém use de má fé, com o intuito de ganhar dinheiro”, externou.

Para ele, é lamentável que ainda se distribua água de carro-pipa no Nordeste, enquanto no Sul e Sudeste se distribui água mineral. “As autoridades do Estado têm que agir com políticas públicas permanentes, como a construção de cisternas de placa, poços profundos e reservatórios”. Para ele, só assim a dependência em relação aos carros-pipa será banida.

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