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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Produção diferenciada de mel

Dedicado ao manuseio e comercialização de mel silvícola há mais de duas décadas, o apicultor Tadeu Barros Silveira encontra no equilibro ecológico o ingrediente necessário para conquistar clientela fiel. O segredo está na harmonia do meio ambiente com as colméias implantadas em sua propriedade, um lote da Fazenda Nova, no distrito de Tapuiará, situado há pouco mais de 20km do Centro de Quixadá. É dali que extrai sua maior riqueza, o ouro viscoso e açucarado, produzido pelas abelhas e armazenado em favos para lhes assegurar alimento.

Do consumo puro ao preparo de pães, bolos, doces e até remédios, o mel é um ingrediente popular na culinária sertaneja. Barato e nutritivo, além de garantir o ciclo de vida das abelhas, ajuda a matar a fome e assegura a sobrevivência do homem no campo. Ao perceber essa importância, o apicultor de Quixadá não pensou duas vezes. Encontrou na sabedoria da natureza um meio de vida, sadio e agradável. Da confecção de suas colméias até chegar à boca do consumidor, ele preserva seus hábitos rurais.

Sozinho, ele controla, coleta, engarrafa e negocia sua produção nos supermercados e lojas especializadas em produtos naturais da região. São nove postos de comércio, quatro supermercados, quatro panificadoras e uma casa de produtos naturais, todas em Quixadá. Existem ainda alguns clientes especiais. Gente que faz questão de manter o relacionamento comercial, pela amizade. O apicultor garante que isso é o suficiente para assegurar a venda dos 1,5 mil litros de mel produzidos anualmente no apiário “Lar da Rainha” e o seu sustento no campo.

Satisfação

Sem ambições, o caçula de sete irmãos, ainda solteiro, se diz satisfeito. Transformou a herança da família até meados dos anos 80 utilizada para a lavoura convencional, num doce recanto da natureza. A mudança surgiu em 1986, com um curso de apicultura. Aprendeu a trabalhar com as abelhas e a partir desse relacionamento foi compreendendo melhor a importância do equilíbrio do ecossistema a sua volta. Não imaginava nem de perto que um dia, ao invés de extrair o mel na carreira, estaria convivendo amigavelmente com milhares de minúsculas operárias.

A satisfação e a segurança do agricultor nato — como ele mesmo faz questão de se titular — com a apicultura são tamanhas que acabou se transformando numa espécie de laboratório de estudos da região. Apesar do acesso difícil, a visita de estudiosos e técnicos é constante. A humilde morada, ainda a manter suas características rurais, recebe especialistas de todo lugar. Ele não esconde o orgulho em poder compartilhar suas experiências. O sucesso do modelo adotado a partir da sua sensibilidade com a preservação do meio ambiente.

Mas no início não foi fácil. Ninguém queria lhe dar crédito, principalmente os bancos. Quando falava de suas intenções lhe batiam a porta na cara. “Fui várias vezes ao banco atrás de empréstimo, mas não conseguia. Além de pobre, que costuma não ser bem recebido pelo gerente, ainda falava de apicultura. Ainda mais quem tem prazer em respeitar a natureza. Era coisa de maluco. Isso só mudou nos últimos anos, após o governo do Fernando Henrique. Mas, mesmo assim, ainda precisa melhorar muito”, desabafa o produtor.

Mercado

Quanto à disputa de mercado, o apicultor não vê obstáculos. Sem qualquer propósito ambicioso, produz o suficiente para o seu sustento. A freguesia é certa. Tomou cuidado apenas em diferenciar o seu produto dos concorrentes. Criou um selo com título sugestivo: “Lar da Rainha”. É como trata os milhares de insetos que acolhe em suas colméias. Garante dividir com a Rainha e suas operárias o lucro dos seus investimentos. Mantém a flora intacta e respeita a reserva energética alimentar delas, principalmente na estiagem.

Essa é exatamente a justificativa que Tadeu dá aos fregueses quando lhe encomendam mais mel no período de seca. Confessa que alguns acham estranho, mas a maioria aprova e até entende o seu relacionamento com as abelhas. Entretanto é ele quem não compreende como chegam a pagar até R$ 12,00 pelo litro a alguns fornecedores enquanto recebem o seu produto pela metade do preço. “Quem sabe um dia percebam que amizade e dedicação são coisas que não se pechincha”, completa sorridente.

Este ano, Tadeu Silveira teve lucro bruto de aproximadamente R$ 9 mil. A média mensal foi de R$ 750,00. Parece pouco, mas para quem acredita num estilo de vida diferente, não dever nada a ninguém, não ter muitas obrigações familiares e nem filhos para criar, é o suficiente. O apicultor prefere acreditar que, ao saberem do seu ofício, se assustam com esses minúsculos insetos, inofensivos desde que sejam tratados com cuidado.

SAIBA MAIS

Alimento

O mel de abelha é um alimento natural, geralmente encontrado em estado líquido viscoso e açucarado, produzido a partir do néctar recolhido de flores e processado pelas enzimas digestivas desses insetos, armazenado nos favos de suas colméias para servir-lhes de alimento.

Variedades

Existem dezenas de variedades de mel silvícola. Podem variar em cor, aroma e sabor segundo a floração, os terrenos de obtenção e técnicas de preparação. A consistência líquida ou endurecida é outra característica marcante em alguns méis que poderá apresentar quando armazenado.

Estudos

Segundo provas arqueológicas, há 42 milhões de anos já existiam abelhas idênticas às atuais. Em obras literárias constam fatos de que os povos sumérios, estabelecidos na Mesopotâmia por volta de 5000 a.C., já usavam mel. O primeiro homem a fazer estudos com métodos científicos sobre as abelhas foi Aristóteles, utilizando uma colméia cilíndrica.


Alex Pimentel
Colaborador

Mais informações:

Apiário Lar da Rainha
Fazenda Nova - Tapuiará - Quixadá
(88) 3412.1990
(88) 9954.2394

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