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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Monólitos do Sertão: Acadêmicos analisam paisagem ambiental


Omissão do poder público e desprezo dos moradores aceleram degradação dos monólitos do Sertão Central

Quixadá. Estudos realizados por professores e alunos da Universidade Regional do Cariri (Urca) apontam responsabilidades no processo de degradação do sítio geográfico dos monólitos de Quixadá. O grupo de estudos avalia a falta de fiscalização, a omissão do poder público e o desprezo dos moradores como principais fatores na aceleração da descaracterização ambiental da região. A ação do ser humano demonstra claramente sua interferência nos aspectos sociais, históricos e naturais. Os pesquisadores alertam para a necessidade da aplicação da legislação ambiental, medidas de proteção e disciplina no uso e ocupação do solo.

Para os pesquisadores, a salvação está na conscientização dos moradores e imediata aplicação de políticas públicas que viabilizem o desenvolvimento com sustentabilidade e responsabilidade. Embora pareça lenta, a transformação provocada pelos ribeirinhos e visitantes acentuam as ações predatórias. Quando menos perceberem, terão causado danos irreparáveis ao ecossistema local, segundo avaliam. O lixo a se acumular na beira do Açude Cedro e os esgotos despejados no local; o nível de eutrofização, a cor, o cheiro da água; a ocupação desordenada e o avanço da poluição visual são notórios exemplos do perigo que avança por outras áreas do Interior.

Estado de abandono

Apesar de avaliar as cidades pólo da região como atrativas, um dos coordenadores do estudo, o geógrafo Geraldo Maximiniano Justino, está preocupado com o que considera estado de abandono. No Crato, Canindé, em Quixadá, a situação é a mesma. Embora os serviços básicos e especializados configurem-se como importante vetor econômico, não são aprimorados. A forte ligação com o turismo e a religiosidade não são suficientes para despertar o interesse pela preservação e sustentabilidade. “Faz-se isso com o nosso patrimônio público de modo muito freqüente. Falta formação e educação, para que isso mude”, afirma ele.

Outro coordenador da expedição acadêmica, o professor Mardineuson Alves de Sena, explica que o estudo também tem um papel denunciativo. São patrimônios importantes e recursos vulneráveis à ação antrópica. “Nossos estudos são realizados por futuros docentes. Nunca estiveram nesta região. A leitura da paisagem, do que somos e fazemos, aliada à visão crítica deles, expõe a cruel realidade da ação humana presente nos impactos ambientais”. Atualmente, o geógrafo realiza um diagnóstico participativo na área rural do município do Crato.

Além de Quixadá e Canindé, Viçosa do Ceará, Tianguá e Sobral foram incluídos no mapa de estudos. Do ponto de vista do grupo, as paisagens socioambientais do Ceará são determinadas pela diversidade social impressa em ambientes naturais. Os relatórios técnicos se transformarão em fonte de pesquisa. Os estudos estarão à disposição do público, na Biblioteca da Urca, a partir da segunda quinzena de outubro.

Antes das anotações, discussões e avaliações das estruturas ambientais, fundiárias, econômicas, sociais e históricas, a caravana fez exercícios de relaxamento, de respiração e energização na margem do Cedro. Saudaram a natureza ao amanhecer do dia. As aulas de campo seguem uma nova metodologia de ensino.

AULAS DE CAMPO

Estudantes aprovam a experiência

Quixadá. Na opinião dos universitários que participaram das aulas de campo nos monólitos do município, essa modalidade de pesquisa é fundamental para a formação do censo crítico profissional. O estudante Edílson Silva acredita que, por meio dessas experiências, é possível ter a real compressão geográfica e ambiental. Para a colega, Germana Sousa, que faz questão de complementar as considerações do amigo, as aulas em áreas naturais são uma importante possibilidade de aprimoramento dos conhecimentos teóricos.

O também estudante da Urca, Marcelo Gregório, vai mais além. Disse que, nesses momentos, se considera um verdadeiro desbravador. Isto porque consegue estabelecer contatos com a realidade, em seus aspectos sociais e ambientais.

Movimentos holísticos

A universitária Juliana Bonifácio é outra que também aprova a modalidade de ensino. Durante o trabalho, eles e outros 39 alunos do curso de Geografia da Urca analisaram contextos urbanos e rurais no Sertão Central.

Uma parte da programação que mereceu destaque foram as vivências holísticas. Os universitários foram convidados a praticar exercícios de alongamento, respiração, posturas de Ioga, entre outras modalidades de movimentação que integram a chamada linha holística de experiência corporal. Os movimentos holísticos auxiliaram o grupo de pesquisadores a suportar a exaustiva jornada. Foram mais de 1.600km percorridos em 18 horas de estrada e três dias de viagem. O trabalho com as aulas de campo foi realizado durante três dias de visitas a pontos estratégicos de localização dos monólitos em Quixadá.

ALEX PIMENTEL
Colaborador

Mais informações:
Departamento de Geociências da Urca
(88) 3102.1202
degeo@urca.br
www.urca.br

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